Roberto Jaguaribe: Brasil é o lugar para investimentos de alta qualidade

A capacidade do Brasil de realizar importantes reformas macroeconômicas, mantendo os princípios democráticos e vencendo umas das maiores crises econômicas de sua história, dá uma sinalização clara aos agentes privados da maturidade e da segurança jurídica do País para receber investimentos de qualidade. “Mesmo com a turbulência que vivemos no ano passado, o Brasil esteve entre os dez maiores destinos de investimentos diretos do mundo. Sempre fomos percebidos como um destino relevante e não deixamos de ser por uma crise pontual”, afirmou o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), embaixador Roberto Jaguaribe em entrevista exclusiva à equipe do Fórum de Investimentos Brasil 2017. O evento será realizado nos dias 30 e 31 de maio em São Paulo, focado na apresentação das oportunidades de negócios no País a agentes estrangeiros. Confira abaixo a entrevista:

FIB 2017 - Do ponto de vista do investidor internacional, por que este é um bom momento para aplicar recursos no Brasil?

Roberto Jaguaribe - O Brasil conseguiu mostrar maturidade, serenidade e uma enorme resiliência para atravessar uma de suas piores crises econômicas e, ainda assim, se manteve entre os países mais atrativos para IED (Investimento Estrangeiro Direto).

 

Hoje o cenário é muito mais positivo. As estimativas dos agentes de mercado, por exemplo, apontam para um crescimento da economia de 0,41% em 2017 e de 2,5% em 2018. Apesar de serem números modestos, a perspectiva de crescimento do PIB já em 2017 representa clara reversão da tendência observada nos dois anos anteriores. Além disso, a inflação projetada para o ano já está abaixo da meta de 4,5%, o que tem permitido uma sinalização do mercado de um cenário de redução de juros para abaixo de 10%. Outros indicadores também sinalizam para uma melhora generalizada do cenário, como o crescimento da produção industrial, a melhora do índice de intenção de investimentos e a forte queda do risco-país (de 558 pontos em março de 2016 para 308 em março de 2017). No âmbito político, destaco mudanças como o teto dos gastos e as reformas da previdência e trabalhista, que estão em andamento.

 

O somatório destes fatores tem ajudado na melhora da percepção dos investidores em relação à economia. Já se percebe um crescimento da entrada de investimentos no Brasil, uma vez que saímos de um cenário de IED na faixa de US$ 72 bilhões [no acumulado em 12 meses] em julho de 2016 para um acumulado de US$ 85 bilhões em janeiro de 2017.

 

FIB 2017 - Há potencial para estrangeiros aumentarem seus investimentos no País? Por quê?

 

Jaguaribe - Sem sombra de dúvida. Há um enorme potencial para novos investimentos no Brasil em setores como infraestrutura, energia, petróleo e gás, setor automotivo, setor de saúde, pesquisa e desenvolvimento, entre outros. No agronegócio, por exemplo, há uma crescente demanda para alimentar uma população global que deve chegar a 9 bilhões em 2050. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo e tem condições de cumprir o papel de provedor global de alimentos.

 

Já no setor de óleo e gás, deverão ser realizados, ainda em 2017, três leilões petrolíferos. Também há interesse na antecipação, para novembro deste ano, do megaleilão de áreas exploratórias do pré-sal previsto para 2018.

 

No setor automotivo, o Brasil tem potencial para ser plataforma de exportação de automóveis e autopeças, possibilitando que as empresas acessem os principais mercados da América Latina com tarifas de importação preferenciais, devido aos acordos de complementação econômica vigentes com a Argentina, Colômbia, México e Uruguai.

 

Com relação à saúde, o Brasil é atualmente um dos dez maiores mercados do mundo, com uma despesa estimada em US$ 166,8 bilhões em 2015. A expectativa é que em dez anos nos tornemos o quinto maior mercado de saúde no mundo, superando países como França e Grã-Bretanha.

 

Há de se destacar ainda o tamanho do mercado interno brasileiro como importante fator de atração para investidores: o Brasil tem a quinta maior população do mundo, com mais de 200 milhões de pessoas -um terço da população latino-americana-, e ainda crescendo a 0,9% ao ano. Somos também a sétima maior economia do mundo, com um PIB de US$ 1,772 trilhão (2015). O Brasil também é plataforma de acesso para outros países da América Latina, o que é fortemente considerado por investidores com foco na região.

 

Mesmo com a turbulência que vivemos no ano passado, o Brasil esteve entre os dez maiores destinos de investimentos diretos do mundo. Sempre fomos percebidos como um destino relevante e não deixamos de ser por uma crise pontual. Além disso, na área de investimentos globais, tomadores de decisão têm foco nos cenários de médio e longo prazo, o que explica a permanência do Brasil na lista de principais destinos de IED.

 

FIB 2017 -O governo vem promovendo uma série de ajustes importantes, como o controle dos gastos públicos e a condução das reformas da previdência e trabalhista. De que maneira essas medidas ajudarão o Brasil a aumentar ainda mais o fluxo de investimento estrangeiro ao País?

 

Jaguaribe - Do lado fiscal, o governo aprovou a emenda constitucional 95, que estabelece a regra do gasto público para os próximos 20 anos. Com base nessa nova regra de crescimento da despesa do governo federal, a despesa primária (despesa não financeira) do governo central será reduzida em cerca de cinco pontos do PIB em dez anos. Isso sinaliza, pela primeira vez desde a Constituição Federal de 1988, um ajuste fiscal pelo lado da despesa em vez do aumento da carga tributária.

 

Por outro lado, a reforma da previdência é uma das mais importantes para o ajuste estrutural das contas públicas já que, sem os ajustes, o gasto com a previdência aumentaria em cerca de dez pontos do PIB até 2060, o que exigiria um aumento da carga tributária de dez pontos do PIB apenas para pagar novas aposentadorias e pensões.

 

Ao promover todas as reformas necessárias, o governo dá uma sinalização clara ao investidor de que somos um país maduro, democraticamente seguro, e um lugar para investimentos de alta qualidade, como historicamente sempre fomos.

 

FIB 2107 - Além das ações internas, o que o governo tem feito para atrair a atenção do investidor internacional?

 

Jaguaribe - Antes de mais nada, acho importante destacar que, para se fazer um trabalho proativo de atração de investimento que dê resultado, é preciso um robusto trabalho de inteligência. A essência do trabalho de atração de IED está na qualidade de informação que você consegue apresentar ao investidor com setores estratégicos para o Brasil. Neste contexto, a Apex-Brasil opera desenvolvendo uma extensa agenda de eventos e roadshows no exterior para promover o País como destinos de IED.

No ano passado, foram realizadas mais de 38 ações de promoção de investimentos, entre elas, missões, visitas técnicas, rodadas de investimentos e seminários. O sucesso dessas ações pode ser notado nos 17 projetos de investimentos facilitados em 2016: sete de investimentos produtivos, dois de captação de fundo e oito investimentos em startups ou empresas inovadoras brasileiras.

 

FIB 2017 - Como empresas internacionais têm reagido aos roadshows para apresentar os projetos de concessões de infraestrutura no Brasil?

 

Jaguaribe - A reação é a melhor possível. Temos percebido uma crescente procura por oportunidades, reflexo direto da melhora do cenário econômico. Um excelente exemplo de como as empresas estão cada vez mais atentas ao País e percebendo as mudanças que estão sendo implementadas no cenário econômico foi o recente leilão de outorgas dos aeroportos de Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis.

 

A Apex-Brasil, esteve, ao longo dos últimos meses, em contato com diversos investidores de grande porte apresentando a nova conjuntura econômica do País, as mudanças nos marcos regulatórios e as oportunidades para investimento. O leilão de concessão dos aeroportos foi um dos temas mais tratados em nossas agendas. Parte do sucesso dos leilões também deve ser creditada à implementação do “seguro cambial”, o que ameniza o problema do risco cambial apontado seguidamente por investidores estrangeiros.

 

Mas há mais oportunidade, além da questão aeroportuária. Atualmente o país investe cerca de 2% de seu PIB em infraestrutura. Contudo, seria necessário investir ao menos 3% do PIB apenas para evitar a depreciação da infraestrutura já existente

 

O programa de concessões e privatizações “Crescer – Construindo um Brasil de Oportunidades", por exemplo, apresenta oportunidades em projetos de infraestrutura em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, mineração, petróleo e gás, energia elétrica, saneamento, linhas de transmissão, com um grande diferencial em relação aos programas anteriores. Para incentivar maior participação de investidores, inclusive estrangeiros, os editais serão lançados também em inglês e o prazo entre o lançamento do edital e o recebimento das propostas será superior a cem dias, dando tempo para a preparação de propostas por parte dos investidores e conferindo mais transparência ao processo como um todo.

 

FIB 2017 - Qual a importância do Fórum de Investimentos Brasil 2017 para o Brasil e para o investidor privado, tanto nacional como estrangeiro? Que oportunidades de negócio podem surgir?

 

Jaguaribe - O Brasil Investment Forum 2017 coroa todo o trabalho que o governo federal vem desenvolvendo para criar um novo e mais próspero ambiente de negócios no país. Será uma oportunidade única para que executivos de grandes empresas – brasileiras e internacionais – possam dialogar com os principais autoridades governamentais do Brasil sobre as oportunidades oferecidas no País. É o momento para que possamos apresentar a este público qualificado tudo o que está sendo feito e as mudanças que ainda serão implementadas no curto e médio prazo. Tenho certeza que os debates serão de alto nível e os empresários terão uma ótima oportunidade de avaliar as melhorias no cenário econômico brasileiro.

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