Hora de investir no Brasil

O mapa-múndi afixado na sala principal da Diretoria de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) indica o tamanho dos desafios da instituição. O foco não está em um ou outro país, mas no mundo inteiro. A ação de atrair capital estrangeiro para o Brasil não obedece aos limites da geografia, mas segue o trajeto que promove a união do interesse do investidor à estratégia de desenvolvimento econômico do Brasil.

“Vamos a campo. Fazemos esse trabalho proativo de prospecção. Buscamos aliar a oportunidade lá fora com a visão de investimento estratégico para o Brasil. Em um país continental como o nosso, com 26 Estados e o Distrito Federal, além de uma matriz produtiva superdiversificada, há oportunidades em muitas áreas”, avalia a diretora de Negócios da agência, Márcia Nejaim Galvão de Almeida.

A executiva ressalva que esse é um trabalho relevante, que não se faz sozinho. Apesar de a agência se posicionar como “one stop shop” (porta de entrada para o atendimento das demandas dos investidores interessados em fazer negócios) – a atividade não é isolada. “Atuamos para auxiliar os ministérios, apoiar as empresas e, ainda, olhar para os estados brasileiros e ajudá-los também nesta ação”, afirma a diretora, ao lembrar que a Apex-Brasil não faz política pública, mas executa as linhas estabelecidas.

ATUAÇÃO

Criada na década de 1990, a agência vem consolidando um trabalho de promoção de exportações, atração de investimentos e de internacionalização das empresas nacionais. Em 2016, apoiou mais de 12 mil empresas de 89 setores da economia brasileira a chegarem a 222 mercados. Dos US$ 185,2 bilhões exportados pelo Brasil, US$ 42,5 bilhões foram de empresas apoiadas pela Apex-Brasil (22,9%).

Nesse último ano, foram realizadas mais de 38 ações de promoção de investimentos, entre elas, missões, visitas técnicas, rodadas de investimentos e seminários, os quais resultaram em 17 projetos de investimentos facilitados, sendo sete de investimentos produtivos, dois de captação de fundo e oito investimentos em startups/empresas inovadoras brasileiras, que totalizaram US$ 1,5 bilhão.

Todo esse movimento está conectado às diretrizes governamentais. A diretora explica que é feita uma análise dos programas definidos pelo governo, nas mais diversas áreas, e o alinhamento com setores prioritários, com base nas estratégias definidas para o País. “Existe um trabalho integrado entre os principais ministérios que atuam nessa agenda de atração de investimentos”, avalia.

Aliado a esse cenário, a volta da estabilização econômica, a queda da inflação, a aprovação do Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos públicos, além das reformas em andamento no Congresso Nacional, como a da Previdência, têm contribuído para tornar o País um ambiente ainda mais atrativo para os investidores. Na avaliação da diretora, todo esse trabalho desenvolvido pela administração federal será apresentado ao público estrangeiro durante o Fórum de Investimentos Brasil 2017, que será realizado pelo Governo Federal entre os dias 30 e 31 de maio, em São Paulo. “O mais importante é a concatenação de iniciativas, já realizadas pelo governo e outras em andamento que dão um recado positivo para a vinda do capital internacional”.

PRIORITÁRIOS

Petróleo e gás, setor automotivo, energias renováveis, infraestrutura, agronegócios, saúde e biotecnologia e inovação e tecnologia são as áreas que estão no foco da Apex-Brasil para captar investidores. É feito um trabalho de inteligência e, uma vez identificados potenciais investidores, a Apex-Brasil posiciona os atributos do Brasil e se coloca como facilitadora dos esforços do investidor na hora de ingressar no mercado brasileiro. A agência concentra uma série de atividades para ajudar esse novo investidor, o que engloba fornecimento de informações estratégias sobre negócios, esclarecimento de dúvidas sobre as legislações tributária e trabalhista, apresentação dos melhores lugares no Brasil para instalação do projeto ou, ainda, identificação de quais empresas já presentes no País têm características para uma possível parceria tecnológica, caso esse caminho faça parte da estratégia daquela companhia estrangeira.

De forma resumida, a atuação da instituição segue um círculo virtuoso baseado em duas linhas de atuação. “Olhamos não só o que o Brasil pode oferecer para os investidores, mas também temos de olhar para fora e verificar quais são as empresas e os investidores que estão direcionando projetos que têm essas características que o Brasil pode oferecer. Por trás, há um forte trabalho de inteligência”, explica a diretora da agência.

No caso do agronegócio, exemplifica Márcia, há espaço significativo para o Brasil crescer, investindo em tecnologia, sem aumentar a área plantada. O País é um dos principais exportadores globais de alimentos e detém aproximadamente 7% do mercado mundial do agronegócio, setor que emprega cerca de 19 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Nos últimos meses, foi criado um grupo de trabalho com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), envolvendo segmentos produtivos da cadeia da agroindústria nacional. O objetivo é atrair investimentos em pesquisa e desenvolvimento para o agronegócio, com foco no aumento da produtividade e agregação de valor. Já foi iniciado, segundo a diretora, um trabalho específico com o mercado dos Estados Unidos para atrair esse perfil de empresa que possa fazer negócios no Brasil. “É atração de investimentos que têm impacto direto na questão da produtividade e do desempenho do setor aqui”, afirma Almeida.

HUB BRASIL

A gerente de Investimento da agência, Maria Luisa Cravo, observa que, além desse efeito positivo no mercado doméstico, é importante fazer ainda uma conexão entre a atração do investimento e o potencial de exportação. Ela destaca o setor de energia eólica, por exemplo, em que foi feito todo um trabalho, a partir de 2010, com o objetivo de atrair empresas estrangeiras fabricantes de componentes dos parques eólicos e, que que pudessem usar o país como plataforma de exportação para outros mercados.

Dados do Ministério de Minas e Energia indicam que, até fevereiro desde ano, a capacidade instalada total de geração de energia eólica no Brasil era de 10,5 gigawatt (GW). Isso representa 6,9% da capacidade elétrica instalada no País. Atualmente, são 466 usinas geradoras, enquanto em janeiro em 2013 eram 86 parques eólicos. A maioria desses empreendimentos estão instalados na região Nordeste. Essa parte do território nacional tem batido recordes na geração de energia eólica, notadamente durante a “safra do vento”, de junho a outubro.

O crescimento dessas usinas colocou o Brasil entre os dez países com maior capacidade instalada de geração eólica no mundo, segundo o ministério. Com base no Plano Decenal de Expansão de Energia, a previsão é de que a energia eólica responda por 8% da matriz elétrica brasileira em 2024. Atualmente, há 162 empreendimentos geradores de energia eólica com potencial de geração de até 3,7 GW, indicam dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

COMPETIÇÃO

“Cada setor e cada empresa têm suas especificidades em termos de negócios, mas também de estratégia. Então, tudo isso faz com que projeto de investimento seja único”, destaca a gerente de Investimento, ao lembrar que o trabalho de atendimento do novo agente produtivo, desenvolvido pela agência, se assemelha ao de mais de duas centenas de instituições, com o mesmo perfil, que operam pelo mundo afora. “A gente está competindo com esses países e com o trabalho dessas pessoas, que querem exatamente o que a gente quer”, avalia.

Um dos mecanismos para fortalecer o ambiente de investimentos no Brasil utilizado pela Apex-Brasil é o desenvolvimento de programas que apoiam investidores financeiros, como fundos soberanos, corporates, fundos de pensão, entre outros, a fim de localizar oportunidades de parceria e investimentos em fundos brasileiros, tanto do private equity, que compra participações em empresas, quanto de venture capital, que investe em empresas já estabelecidas -de pequeno e médio portes- com potencial de crescimento. Esse trabalho já é realizado há mais de seis anos em parceria com a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), sendo responsável por apoiar mais de US$ 10 bilhões em capital comprometido para o País, de investidores dos Estados Unidos, Europa e Ásia.

A agência apoia gestores de venture capital estrangeiro em se conectar com o ecossistema de inovação e investimento brasileiro. São realizados atendimentos customizados que visam facilitar a qualidade do fluxo de negócios para avaliação de investidores ou visitas com agenda de reuniões e networking. Nesse sentido, desde 2013, uma série de ações são desenvolvidas anualmente no Vale do Silício e Nova York, nos Estados Unidos, além de São Paulo e Londres.

A partir de 2015, a instituição passou a desenvolver o projeto Corporate Venture in Brasil, em parceria com a Global Corporate Venturing. O objetivo é facilitar a interação dos programas de empreendedorismo corporativo de grandes corporações com o ecossistema empreendedor nacional.

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