O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), acredita ser “irreversível” o avanço do projeto na Câmara dos Deputados. “Tenho a mais absoluta convicção de que haveremos de conquistar o apoio da Câmara”, disse, ao falar nesta manhã (31) para investidores reunidos no Brasil Investment Forum 2017, promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ministério do Planejamento e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). “Para o Brasil, o melhor é que possamos avançar com o presidente Temer comandando este processo.”
Ele negou que a base de sustentação do governo tenha sido reduzida nos últimos dias em decorrência da crise. Citou, como exemplo, a saída da bancada do PSB na Câmara da base, ponderando que 20 deputados do partido permanecem dispostos a aprovar a reforma. “Mais impopular do que o voto na reforma da previdência é disputar a eleição de 2018 em um cenário de caos social”, afirmou. De acordo com ele, até mesmo lideranças políticas do interior do país, que tiveram resistência inicial à proposta, já compreenderam a necessidade da reforma para reanimar a economia brasileira.
O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília, discordou, alertando que a reforma previdenciária pode enfrentar dificuldades para avançar em função da resistência da população ao tema. “De olho no seu eleitor, para poder retomar o mandato e continuar garantindo foro privilegiado, os deputados podem ficar receosos e se recusar a votar a favor da reforma previdenciária”, disse o cientista político.
Maia ponderou, porém, que o governo Michel Temer enviou um projeto de reforma previdenciária “com viés um tanto duro” que gerou inicialmente resistência política e social. Mas, segundo ele, o parecer apresentado trouxe ajustes que atenderam às demandas, compatibilizando o projeto com a realidade política. “No processo político, não adianta almejar o ótimo. É melhor aprovar o bom”, justificou Marcos Maia.
Para Fleischer, o período até outubro é decisivo para que as reformas em discussão sejam aprovadas. Depois desse período, o calendário eleitoral poderá “atrapalhar” o andamento. “O tempo e a vontade política dos deputados serão determinantes no avanço dessas reformas”, disse. Ele destaca que o Congresso tem aprovado mudanças substanciais para o Brasil, como o marco regulatório do Pré-Sal, e também ocorreram avanços na reforma trabalhista, a despeito da resistência das centrais sindicais.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), José Guilherme Guilhon, acredita que houve uma mudança fundamental no Congresso Nacional, que está demonstrando estar disposto a aprovar projetos impopulares. “É um Congresso mais ciente do seu papel diante da Nação”, disse, ponderando que mudanças já aprovadas, como a emenda constitucional que limita gastos públicos, enfrentam a resistência da maioria dos brasileiros, de acordo com institutos de opinião pública. “O Congresso tem se aliado ao lado do que é necessário, apesar de impopularidade.”