Ilan Goldfajn: O momento de investir no Brasil é agora

Indicadores positivos não faltam para comprovar que a economia brasileira está em recuperação, como a inflação baixa, a retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o alto fluxo de chegada de capital internacional ao País. O cenário atual representa um momento único para os investidores estrangeiros que dirigem os olhos ao Brasil. “A oportunidade é agora. O retorno ainda é alto e as perspectivas estão começando a mudar”, destacou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em entrevista à equipe do Fórum de Investimentos Brasil 2017. O evento será realizado nos dias 30 e 31 de maio em São Paulo, focado na apresentação das oportunidades de negócios no País a agentes estrangeiros. Confira abaixo a entrevista:

FIB 2017 - Por que agora é um bom momento para investir no Brasil?

Goldfajn – Porque este é um momento no qual as expectativas para a frente são melhores que no passado. Quando o futuro é melhor que o passado, é o momento de investir. A gente está saindo de um período mais difícil. Temos vários indicadores de que o Brasil está começando a se recuperar e vai ser um bom lugar para quem investir aqui neste momento.

FIB 2017 - O último boletim Focus aponta que o mercado reduziu a expectativa de inflação para 4,03%, este ano, e para 4,30%, em 2018. A inflação sob controle ajuda a atrair investidores?

Goldfajn – Mostra uma estabilidade, que o Brasil está caminhando para o lado correto. Por muito tempo a gente caminhou para o lado errado. Quando a inflação baixa, a população se sente mais empoderada. O poder de compra aumenta, pode gastar mais. Com o consumo subindo você pode almejar uma recuperação da economia. Brasil tem inflação baixa, estável, e uma perspectiva de recuperação da economia em termos da atividade. Para o investidor isso é um sinal de estabilidade, de que a taxa de juros estrutural pode ser melhor no futuro.

FIB 2017 - O boletim Focus indica dólar a R$ 3,23 no final deste ano e a R$ 3,38 no final de 2018. É um patamar adequado?

Goldfajn – Isso mostra uma certa estabilidade cambial para a frente, o que é sempre bom, nem para um lado, nem para o outro. É claro que a taxa de câmbio é flutuante. O investidor que vier para cá sabe que não vamos controlar o câmbio, não vamos fazer nada fora do comum. Pode investir. A estabilidade do câmbio vem das políticas, não porque tem alguém segurando o câmbio. Isso é muito importante.

FIB 2017 – O boletim Focus mostra uma expectativa de Investimento Direto no País de US$ 78 bilhões em 2017 e de US$ 80 bilhões no ano que vem. O que representam esses números?

Goldfajn – Mostra que nosso balanço de pagamentos está facilmente financiável. E quando você financia seu balanço de pagamentos com investimentos diretos, é o fluxo mais estável que a gente tem. Temos hoje déficit em conta corrente de 1,2% do PIB e investimento direto de 4,4%. É um equilíbrio bem estável, com tudo financiado pelo investimento direto.

FIB 2017 - O que o Brasil está fazendo para ampliar o ritmo de retomada do crescimento econômico?

Goldfajn – Muitas reformas, mudanças, ajustes. Temos desde mudanças na educação até reforma trabalhista, PEC dos gastos, reforma da Previdência, a mudança das regras em óleo e gás. Temos mudanças na política monetária, com expectativas ancoradas à frente. Estamos com perspectivas de recuperação da economia. O dever de casa está sendo feito.

FIB 2017 - O ambiente de crédito nacional e internacional é atrativo para o investidor que está chegando ao País?

Goldfajn – Não falta financiamento no mundo. Você tem muita liquidez, tanto lá quanto aqui. Para quem vem com um bom projeto não falta liquidez. Tem de ser um bom projeto, bem estabelecido. Para isso vai haver recursos, tanto internacionalmente quanto localmente. Quando você cobra uma taxa de juros em dólar, o cupom cambial, que é a diferença, é pequeno. É claro que os juros, quando estão em reais, são bem mais altos do que lá fora. Mas entre quem toma o dinheiro em dólar lá fora ou aqui dentro a diferença é bem pequena.

FIB 2017 -  No que o Brasil se diferencia de outros países nas possibilidades de retorno?

Goldfajn – O Brasil oferece retornos atrativos para o investidor, mais do que compensa o risco. A oportunidade é agora. O retorno ainda é alto e as perspectivas estão começando a mudar. Economias emergentes em geral têm retorno mais alto, mas a questão é saber se o risco compensa ou não esse retorno. Acho que neste momento a nossa combinação é única, de um país que está fazendo as reformas e onde ainda há uma percepção de risco que mantém as taxas elevadas. Isso é raro.

FIB 2017 - Como a trajetória de queda da taxa básica de juros, a Selic, afeta os investimento?

Goldfajn – Sinaliza que pela primeira vez em muitos anos a gente está com uma queda da taxa Selic que vem calcada em melhores fundamentos de uma forma importante. A gente tem uma expectativa de inflação baixa para este ano e para o ano que vem e ancorada na meta para os próximos anos. É uma queda da taxa de juros sólida, sustentável.

FIB 2017 - O que o Brasil está realizando para recuperar a confiança do investidor internacional, rumo à retomada do investment grade?

Goldfajn – Risco, inflação e juros caindo e a economia voltando a aquecer, com contas públicas em ordem. Esse é o caminho para a retomada da confiança do investidor e, depois, da própria classificação de risco das agências de rating.

FIB 2017 – Qual o recado o senhor daria para os investidores internacionais?

Goldfajn – O recado é que estamos aqui trabalhando de forma consistente. Não estamos procurando só mudanças de curto prazo. São mudanças que vieram para ficar. E que os investimentos vão ser bem-vindos e que vale a pena compartilhar com a gente essa cruzada.

FIB 2017 – Melhorou a percepção dos investidores sobre o Brasil de um ano para cá?

Goldfajn – Havia muito risco embutido. Risco político, risco econômico. O CDS (Credit Default Swap), que é uma medida de risco, chegou a ficar em 500 pontos. Hoje está nas mínimas, 213 , 211 pontos. E claro que pode continuar caindo. Outra coisa é quando você calcula o juro real para a frente, está perto de 4,5%. Essa taxa chegou a 9% durante a crise. Olha a diferença.

FIB 2017 – A aprovação da reforma da Previdência é uma sinalização mais concreta para os investidores?

Goldfajn – Sem dúvida. Uma vez aprovada vai dar o sinal verde importante. É mais um passo.

Compartilhe

Outras Notícias

Henrique Meirelles: reformas vão melhorar a produtividade da economia brasileira

Hora de investir no Brasil

Plano da Petrobras prevê parcerias que são oportunidade única, diz presidente da estatal